segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O MODERNISMO NO BRASIL

LITERATURA: MODERNISMO NO BRASIL

                                               Modernismo no Brasil  
                                                           Definição
            O modernismo no Brasil tem como marco simbólico a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, no ano de 1922, considerada um divisor de águas na história da cultura brasileira. O evento - organizado por um grupo de intelectuais e artistas por ocasião do Centenário da Independência - declara o rompimento com o tradicionalismo cultural associado às correntes literárias e artísticas anteriores: o parnasianismo, o simbolismo e a arte acadêmica. A defesa de um novo ponto de vista estético e o compromisso com a independência cultural do país fazem do modernismo sinônimo de "estilo novo", diretamente associado à produção realizada sob a influência de 1922. Heitor Villa-Lobos na música; Mário de Andrade e Oswald de Andrade, na literatura; Victor Brecheret, na escultura; Anita Malfatti e Di Cavalcanti, na pintura, são alguns dos participantes da Semana, realçando sua abrangência e heterogeneidade. Os estudiosos tendem a considerar o período de 1922 a 1930, como a fase em que se evidencia um compromisso primeiro dos artistas com a renovação estética, beneficiada pelo contato estreito com as vanguardas européias (cubismo, futurismo, surrealismo etc.). Tal esforço de redefinição da linguagem artística se articula a um forte interesse pelas questões nacionais, que ganham acento destacado a partir da década de 1930, quando os ideais de 1922 se difundem e se normalizam. Ainda que o modernismo no Brasil deva ser pensado a partir de suas expressões múltiplas - no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco etc. - a Semana de Arte Moderna é um fenômeno eminentemente urbano e paulista, conectado ao crescimento de São Paulo na década de 1920, à industrialização, à migração maciça de estrangeiros e à urbanização.
            Apesar da força literária do grupo modernista, as artes plásticas estão na base do movimento. O impulso teria vindo da pintura, da atuação de Di Cavalcanti à frente da organização do evento, das esculturas de Brecheret e, sobretudo, da exposição de Anita Malfatti, em 1917. Os trabalhos de Anita desse período (O Homem Amarelo, a Estudante Russa, A Mulher de Cabelos Verdes, A Índia, A Boba, O Japonês etc.) apresentam um compromisso com os ensinamentos da arte moderna: a pincelada livre, a problematização da relação figura/fundo, o trato da luz sem o convencional claro-escuro. A obra de Di Cavalcanti segue outra direção. Autodidata, Di Cavalcanti trabalha como ilustrador e caricaturista. O traço simples e estilizado se tornará a marca de sua linguagem gráfica. A pintura, iniciada em 1917, não apresenta orientação definida. Suas obras revelam certo ecletismo, alternando o tom romântico e "penumbrista" (Boêmios, 1921) com as inspirações em Pablo Picasso, Georges Braque e Paul Cézanne, que o levam à geometrização da forma e à exploração da cor (Samba e Modelo no Atelier, ambas de 1925). Os contrastes cromáticos e os elementos ornamentais da pintura de Henri Matisse, por sua vez, estão na raiz de trabalhos como Mulher e Paisagem, 1931.     A formação italiana e a experiência francesa marcam as esculturas de Brecheret. Autor da maquete do Monumento às Bandeiras, 1920, e de 12 peças expostas na Semana (entre elas, Cabeça de Cristo, Daisy e Torso), Brecheret é o escultor do grupo modernista, comparado aos escultores franceses Auguste Rodin e Emile Antoine Bourdelle pelos críticos da época.
TARSILA DO AMARAL não esteve presente ao evento de 1922, o que não tira o seu lugar de grande expoente do modernismo brasileiro.   Aos temas nacionais, a pintora produz uma obra emblemática das preocupações do grupo modernista. Da pintura francesa, especialmente das "paisagens animadas" , Tarsila retira a imagem da máquina como ícone da sociedade industrial e moderna. As engrenagens produzem efeito estético preciso, fornecendo uma linguagem aos trabalhos: seus contornos, cores e planos modulados introduzem movimento às telas. A essa primeira fase "pau-brasil", caracterizada pelas paisagens nativas e figurações líricas, segue-se um curto período antropofágico, 1927-1929. A viagem à URSS, em 1931, está na origem de uma guinada social na obra de Tarsila (Operários, 1933), que coincide com a inflexão nacionalista do período, exemplarmente representada por Candido Portinari. Portinari pode ser tomado como expressão típica do modernismo de 1930. À pesquisa de temas nacionais e ao forte acento social e político dos trabalhos associam-se o cubismo de Picasso, formado no léxico expressionista alemão, aproxima-se dos modernistas em 1923, quando se instala no país. Parte de sua obra, ampla e diversificada, registra a paisagem e as figuras locais em sintonia com as preocupações modernistas.
O Modernismo no Brasil – 2ª fase
           
            A literatura quase sempre privilegia o romance quando quer retratar a realidade, analisando ou denunciando-a. O Brasil e o mundo viveram profundas crises nas décadas de 1930 e 40, nesse momento o romance brasileiro se destaca, pois se coloca a serviço da análise crítica da realidade. O quadro social, econômico e político que se verificava no Brasil e no mundo no início da década de 1930 – o nazifascismo, a crise da Bolsa de Nova Iorque, a crise cafeeira, o combate ao socialismo – exigia dos artistas uma nova postura diante da realidade, nova posição ideológica. Na prosa, foi evidente o interesse por temas nacionais, uma linguagem mais brasileira, com um enfoque mais direto dos fatos marcados pelo Realismo – Naturalismo do século XIX. O romance focou o regionalismo, principalmente o nordestino, onde problemas como a seca, a migração, os problemas do trabalhador rural, a miséria, a ignorância foram ressaltados. Além do regionalismo, destacaram-se também outras temáticas, surgiu o romance urbano e psicológico, o romance poético-metafísico e a narrativa surrealista. A poesia da 2ª fase modernista percorreu um caminho de amadurecimento. No aspecto formal, o verso livre foi o melhor recurso para exprimir sensibilidade do novo tempo, se caracteriza como uma poesia de questionamento: da existência humana, do sentimento de “estar-no-mundo”, inquietação social, religiosa, filosófica e amorosa.

Dentre os muitos poetas e escritores dessa fase destacamos:

NA PROSA:

- Graciliano Ramos
- Rachel de Queiros
- Jorge Amado
- José Lins do Rego
- Érico Veríssimo
- Dionélio Machado

NA POESIA:

- Carlos Drummond de Andrade
- Murilo Mendes
- Jorge de Lima
- Cecília Meireles
- Vinícius de Morais.

O ROMANTISMO NO BRASIL

     O ROMANTISMO NO BRASIL
                                                (Literatura Brasileira)
            O início oficial do Romantismo brasileiro é situado pelos estudiosos em 1836 e se estendeu até 188l. Foi o primeiro movimento da chamada. Era Nacional da nossa literatura; assumiu, por isso, a tarefa de criar uma arte literária autenticamente brasileira, capaz de expressar as peculiaridades do país recém-libertado. A produção literária do romantismo foi muito grande. A poesia costuma ser dividida em três gerações, cada uma devidamente caracterizada.

A PRIMEIRA GERAÇÃO DA POESIA ROMÂNTICA


            Entre 1833 e 1836, um grupo de intelectuais brasileiros do qual faziam parte entre outros, Domingos José Gonçalves de Magalhães, esteve na Europa para estudar. Procurando divulgar a cultura e realidade brasileiras, esses intelectuais fundaram, em 1836, em Paris, a Revista Niterói ? Revista Brasiliense de Ciências, Letras e Artes. Foi no primeiro número da revista Niterói que Gonçalves de Magalhães publicou seus primeiros trabalhos. A estética romântica pregava a valorização do elemento local através da poesia indianista. A religiosidade em tom solene vinha de um sentimento que se manifesta pela percepção da presença da divindade na natureza, um sentimento panteísta.
A obra poética de maior expressão da primeira geração romântica foi produzida por GONÇALVES DIAS, que não participou das atividades do grupo parisiense.

SEGUNDA GERAÇÃO DA POESIA ROMÂNTICA : MAL DO SÉCULO

            A segunda geração poética do nosso romantismo surge com sinais de que a poesia romântica brasileira adquire novas feições em relação ao nacionalismo e a religiosidade. Seus poetas estão voltados para a própria individualidade, preocupando com seus sentimentos e frustrações.
            Inspirados pelo poeta inglês George Gordon Byron, mais conhecido como Lorde BYRON, cuja vida aventurosa exerceu fascínio sobre os jovens intelectuais da época. Nos poemas da segunda geração romântica est6ão presentes as tendências que definem a geração Mal do Século: “individualismo exacerbado,pessimismo e desencanto diante da vida”, que passa a ser considerada uma experiência tediosa. Coincidentemente os quatro principais poetas que representam essa geração morreram todos muito jovens. Poetas: ÁLVARES DE AZEVEDO, CASIMIRO DE ABREU, FAGUNDES VARELA E JUNQUEIRA FREIRE.


TERCEIRA GERAÇÃO DA POESIA ROMÂNTICA

            A partir de 1860, principalmente, começa a ganhar força uma nova tendência: a da poesia social e humanitária, preocupada com a divulgação e o debate das questões como o direito dos povos à independência, a abolição da escravidão negra, a erradicação da miséria, o papel da educação na melhoria da qualidade de vida do ser humano.
            No Brasil surge uma poesia engajada, dedicada à propaganda ideológica, normalmente em tom grandiloquente.
            O maior representante dessa nova tendência foi Castro Alves.

AUTORES DO ROMANTISMO
            O Romantismo foi o estilo literário que perdurou no Brasil desde 1836 ATÉ 1881 (ANO DA PUBLICAÇÃO DE O MULATO E MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS). O primeiro poeta romântico brasileiro foi Gonçalves de Magalhães, que publicou SUSPIROS POÉTICOS E SAUDADES EM 1836. Era marcado por grande subjetividade, idealização (da mulher e do amor) e sentimentalismo. Foi a primeira tentativa consciente de se produzir literatura verdadeiramente brasileira.
GONÇALVES DIAS
            Orgulhoso de ter o sangue de índios, negros e brancos em seu corpo, Antônio Gonçalves Dias nasceu a 10 de agosto de 1823 no Maranhão e morreu a 3 de novembro de 1864. Gonçalves Dias foi um poeta romântico indianista e bacharel em Direito pela universidade de Coimbra. Sua poesia trouxe a admiração da crítica e do rei, que o nomeou para vários cargos públicos e lhe permitiu viver mais confortavelmente, tendo viajado pelo Norte do Brasil a serviço da corte. Também fez teatro. Recusado pela família de sua amada, casou-se com outra e, doente, viajou a Europa para se tratar. Quando o governo cortou o subsídio que lhe concedia em 1864, decidiu voltar ao Brasil. Na volta, morre no naufrágio do "Ville de Boulogne" por estar doente, já que foi abandonado de cama em estado deplorável enquanto todos os outros se salvaram. Alguns de seus poemas indianistas mais famosos são I-JUCA PIRAMA E OS TIMBIRAS.
"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá." CANÇÃO DO EXÍLIO
"Eu vi o brioso no largo terreiro,
Cantar prisioneiro
Seu canto de morte, que nunca esqueci:
Valente como era, chorou sem ter pejo;
Parece que o vejo,
Que o tenho nest'hora diante de mi." I-JUCA PIRAMA
"Por onde quer que fordes de fugida
Vai o fero Itajuba perseguir-vos
Por água ou terra, ou campos, ou florestas;
Tremei!..." OS TIMBIRAS
ÁLVARES DE AZEVEDO
            Manuel Antônio Álvares de Azevedo nasceu em 1831, um gênio precoce que já falava francês, inglês e latim aos 10 anos de idade. Estudava Direito e participava de altas orgias em reuniões com outros grandes escritores românticos como seu amigo Bernardo de Guimarães. Além do maior poeta da tendência Mal do Século no Brasil, Álvares de Azevedo também escreveu contos e uma peça de teatro (MACÁRIO). Quando entrou na faculdade de Direito teve um pressentimento que não completaria o curso ao ver dois estudantes do quinto ano morrerem na sua frente.            A morte foi uma constante em sua obra, já que o irmão morreu prematuramente e ele sentia fortes dores no peito. De fato, morreu meses após completar o quarto ano, com prematuros 20 anos de idade, de um tumor na fossa ilíaca descoberto após um acidente de equitação. Dois anos depois sua obra romântica, dividida entre Ariel (o bem) e Caliban (o mal), passou a ser publicada.    FOI O MAIOR POETA BRASILEIRO DA TENDÊNCIA DO MAL DO SÉCULO. Seguem passagens do livro de contos (Caliban) NOITE NA TAVERNA, uma amostra da poesia SE EU MORRESSE AMANHÃ (composta dias antes do acidente) e do livro de poesias LIRA DOS VINTE ANOS.
"Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
SE EU MORRESSE AMANHÃ!"
" Quando falo contigo, no meu peito
esquece-me esta dor que me consome:
Talvez corre o prazer nas fibras d'alma:
E eu ouso ainda murmurar teu nome!" LIRA DOS VINTE ANOS
"Pois bem, dir-vos-ei uma história. Mas quanto a essa, podeis tremer a gosto, podeis suar a frio da fronte grossas bagas de terror. Não é um conto, é uma lembrança do passado." NOITE NA TAVERNA
            "A mulher recuava... Recuava. O moço tomou-a nos braços, pregou os lábios nos dela... Ela deu um grito, e caiu-lhe das mãos. Era horrível de ver-se. O moço tomou o punhal, fechou os olhos, apertou-os no peito, e caiu sobre ela. Dois gemidos sufocaram-se no estrondo do baque de um corpo..." Noite na Taverna
            "Mais claro que o dia. Se chamas o amor à troca de duas temperaturas, o aperto de dois sexos, a convulsão de dois peitos que arquejam, o beijo de duas bocas que tremem de duas vidas que se fundem tenho amado muito e sempre! Se chamas o amor o sentimento casto e poro que faz cismar o pensativo, que faz chorar o amante na relva onde passou a beleza, que adivinha o perfume dela na brisa, que pergunta às aves, à manhã, à noite, às harmonias da música, que melodia é mais doce que sua voz, e ao seu coração, que formosura há mais divina que a dela-eu nunca amei. Ainda não achei uma mulher assim. Entre um charuto e uma chávena de café lembro-me às vezes de alguma forma divina, morena, branca, loira, de cabelos castanhos ou negros. Tenho-as visto que fazem empalidecer-e meu peito parece sufocar meus lábios se gelam, minha mão se esfria..." MACÁRIO
"Esse amor foi uma desgraça. Foi uma sina terrível. Ó meu pai! ó minha segunda mãe! ó meus anjos! meu céu! minhas campinas! É tão triste morrer!" MACÁRIO
JUNQUEIRA FREIRE
            O monge beneditino Luís José Junqueira Freire (1832-1855) permaneceu enclausurado até 1854, atormentado pela falta de vocação e com uma sexualidade latente e reprimida. Seus poemas mostram um jovem angustiado, incapaz de seguir a vida religiosa e que vê na morte a única fuga (EVASÃO NA MORTE, CARACTERÍSTICA TÍPICA DA POESIA MAL DO SÉCULO).
"Eis a descrença e a crença,
Eis o absinto e a flor,
Eis o amor e o ódio,
Eis o prazer e a dor!"
JOAQUIM DE SOUSÂNDRADE
            Joaquim de Sousa Andrade (1833-1902) era um republicano e abolicionista convicto e militante, que morou em NY e mais tarde foi professor. Morto, sua obra foi esquecida e só na década de 1960 foi resgatada. Usou inovações como a criação de neologismos e metáforas, valorizadas só mais tarde. Segue aqui uma citação deste que é um dos menos conhecidos dos poetas românticos brasileiros, apesar de segundo apenas a Castro Alves na poesia social.
"Desde a noite funérea de tristeza
Heleura está doente. Ara, morrendo,
Nunca perdera as cores do semblante,
Um formoso defunto: "Vivo! Vivo!"
Gritava a filha p'ra que não o levassem:
"Vivo! Vivo!" Prenúncios maus, diziam."
CASIMIRO DE ABREU
            Comerciante, Casimiro José Marques de Abreu nasceu em quatro de Janeiro de 1839 no município de Barra de São João (que atualmente leva seu nome), levou vida boêmia e morreu tuberculoso em 18 de outubro de 1860, três anos após voltar de Portugal, onde estava a negócios. Sua poesia não foi muito inovadora, sendo considerado mais ingênuo dos românticos. Conhecido como "poeta da infância", fala muito da inocência perdida, como mostra a passagem abaixo. Um dos motivos de sua nostalgia era a intransigência do pai, que o obrigou a se tornar comerciante ao invés de lhe permitir ser poeta.
"Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!"
FAGUNDES VARELA
            Luís Nicolau Fagundes Varela (1841-1875) foi um poeta romântico inspirado pelo byronismo. Boêmio, este estudante de direito que nunca conclui o curso perdeu seu filho ainda novo e da esposa o leva mais fundo à boêmia.           Casando-se de novo, muda-se para Niterói e falece, alcoólatra e mentalmente desequilibrado. Considerado o menos ingênuo dos românticos, a perda do filho influenciou muito sua obra, sendo o CÂNTICO DO CALVÁRIO indicação disto. Segue uma passagem.
"Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústia conduzia
O ramo da esperança. - Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pergueiro."
CASTRO ALVES
            Antônio Frederico de Castro Alves nasceu a 14 de março de 1847 na cidade que hoje leva seu nome e morreu tuberculoso a 6 de julho de 1871. Tinha 15 anos quando se matriculou no curso de Direito em Recife, onde iniciou sua carreira poética, escrevendo poesia lírica e social (a social sendo a que mais o consagrou) a favor da abolição da escravatura, sendo por isso chamado de Poeta dos Escravos. Sua poesia lírica era menos idealizada que a de seus contemporâneos românticos, apresentando uma mulher mais sensual menos idealizada. Entusiasmou-se pelo teatro e casou-se com uma atriz chamada Eugênia Câmara, dez anos mais velha, que o abandonou mais tarde. Tempos depois do casamento, atira contra o próprio pé em uma caçada e tem o membro amputado. As caçadas tiveram sua origem justamente como escapatória das constantes brigas que o casal tinha começado a ter quando se mudaram para São Paulo. Mas após este infeliz acidente ainda pôde andar, ainda que com o auxílio de uma bengala e um pé de borracha. Em 1870 publica Espumas Flutuantes na Bahia, sua única obra poética publicada em vida.       O que segue é uma passagem de seu célebre NAVIO NEGREIRO, parte de sua obra publicada postumamente em OS ESCRAVOS.
"Eras um sono dantesco... O tombadilho,
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar,
Tinir de ferros... Estalar do açoite...
Legiões de homens negros como a noite
Horrendos a dançar" Os Escravos
GONÇALVES DE MAGALHÃES
            Domingos José Gonçalves de Magalhães (1811-1882) nasceu em Niterói, RJ, e morreu em Roma. Formou-se em Medicina, trouxe e divulgou o Romantismo no Brasil após sua viagem à Europa. Fez poesia religiosa e indianista (estas o últimas o levaram a grande polêmica com José de Alencar). Não era um grande poeta e é considerado um poeta importante apenas pela introdução do Romantismo com seu livro Suspiros poéticos e saudades.
TOBIAS BARRETO
            Tobias Barreto de Meneses (1839-1889), além de filósofo, ensaísta, jurista, crítico, polemista, educador e político foi também um dos maiores nomes da poesia social brasileira. Quando estudante, participava de polêmicas célebres com Castro Alves.
            Brilhante, aos 15 anos ensinava latim. Aos 20 ia tornar-se padre, mas foi expulso do seminário por boemia e indisciplina. No Recife onde morreu foi catedrático da Faculdade de Direito. Seu único livro de versos publicado foi Dias e Noites.
MARTINS PENA
            Luís Carlos Martins Pena (5/11/1815 - 7/12/1848) morreu jovem em Lisboa, tendo escrito no período 28 peças teatrais. Quando jovem, estudou Belas Artes e aprendeu mais sobre o teatro. Mais tarde trabalhou como censor teatral, aprendendo ainda mais sobre sua arte.
            Apesar de ter escrito sua primeira peça, O Juiz de Paz da Roça, em 1833, ela só foi encenada 5 anos mais tarde, pela trupe de João Caetano, então um dos mais importantes atores brasileiros. Apesar de ter tentado fazer teatro histórico (gênero bem-sucedido no Romantismo europeu), foi como comediógrafo que mais se destacou; entre 1844 e 1846 escreveu 17 peças cômicas, criando o teatro de costumes brasileiro. É comparado por alguns críticos com Manuel Antônio de Almeida, por fazer algo próximo de um Realismo ingênuo. Sua obra mais importante é O Noviço.
"E vós, senhoras, esperai da justiça dos homens o castigo deste malvado (Para Carlos e Emília:) E vós, meus filhos, sede felizes, que eu pedirei para todos (ao público) indulgência!" O Noviço
BERNARDO GUIMARÃES
            Mineiro, Bernardo Guimarães foi juiz, jornalista e professor. Atuou como juiz em Catalão, onde tomou a polêmica medida de libertar presos que abarrotavam a cadeia municipal.
            Vivia em um grande desleixo, como atestam pessoas que o visitavam. Como professor também não era competente, tendo sido despedido por sua falta de assiduidade e competência. Ele pretendia, junto com Álvares de Azevedo, instalar a boêmia byroniana em São Paulo. Tornou-se célebre principalmente por sua famosa obra A Escrava Isaura, que foi adaptada para filme, teatro e televisão.
            "As linhas do perfil desenhavam-se distintamente entre o ébano da caixa do piano, e as bastas madeixas ainda mais negras do que ele. São tão puras e suaves estas linhas, que fascinam os olhos, enlevam a mente, e paralisam toda análise. A tez é como o marfim do teclado, alva que não deslumbra, embaraçada por uma nuança delicada, que não sabereis dizer se é leve palidez ou cor-de-rosa desmaiada. O colo donoso e do mais puro louvor sustenta com graça inefável o busto maravilhoso. Os cabelos soltos e fortemente ondulados se despenham caracolando pelos ombros em espessos e luzidios rolos, e como franjas negras escondiam completamente o dorso da cadeira, a que se achava recostada." A Escrava Isaura
"Pobre Isaura! - disse Álvaro com a voz comovida, estendendo os braços à cativa. - Chega-te a mim... Eu protestei no fundo de minha alma e por minha honra desafrontar-te do jugo opressor e aviltante, que te esmagava, porque via em ti a pureza de um anjo, e a nobre e altiva resignação de um mártir. Foi uma missão santa, que julgo ter recebido do céu, e que hoje vejo coroada do mais feliz e completo resultado. Deus enfim, por minhas mãos vinga a inocência e a virtude oprimida, e esmaga o algoz." A Escrava Isaura
Manuel Antônio de Almeida
Escritor romântico de transição para o Realismo, Manuel Antônio de Almeida (1831-1861) se formou em Medicina mas era jornalista por excelência. Um de seus empregos antes do jornalismo foi assistente de tipógrafo. Só escreveu uma obra, que foi em vida assinada anonimamente por ele apenas como "Um Brasileiro". Este pseudônimo indicava que ele possivelmente não continuaria a carreira literária. Morreu tragicamente aos 30 anos de idade, no naufrágio do navio Hermes, enquanto fazia campanha para deputação federal. Seguem algumas passagens desta obra, Memórias de um Sargento de Milícias.
"O compadre compreendeu tudo: viu que o Leonardo abandonava o filho, uma vez que a mãe o tinha abandonado, e fez um gesto como quem queria dizer: - Está bom, já agora... Vá; ficaremos com uma carga às costas." Memórias de um Sargento de Milícias
"Passado o tempo indispensável de luto, o Leonardo, em uniforme de Sargento de Milícias, recebeu-se na Sé com Luisinha, assistindo à cerimônia a família em peso." Memórias de um Sargento de Milícias
Joaquim Manuel de Macedo
Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882) nasceu no RJ e formou-se médico. Fundou a revista Guanabara com Gonçalves Dias, foi redator de revista, secretário, orador do Instituto Histórico, político e professor. Amigo do imperador, tornou-se preceptor dos filhos da princesa Isabel. Um dos primeiros românticos, provavelmente o mais puramente romântico de todos na prosa, produziu diversos livros entre os quais os mais célebres são A Moreninha (que escreveu ainda muito jovem, com apenas 20, 21 anos de idade e lhe deu fama imediata), O Moço Loiro e A Luneta Mágica.
"No dia 20 de julho de 18... Na sala parlamentar da casa nº... Da rua de..., sendo testemunhas os estudantes Fabrício e Leopoldo, acordaram Felipe e Augusto, também estudantes, que, se até o dia de 20 de agosto do corrente ano, o segundo acordante tiver amado a uma só mulher durante quinze dias ou mais, será obrigado a escrever um romance em que tal acontecimento confesse; e, no caso contrário, igual pena sofrerá o primeiro acordante. Sala parlamentar, 20 de julho de 18... Salva a redação." A Moreninha
"Achei minha mulher!... Bradava Augusto; encontrei minha mulher!... Encontrei minha mulher!..." A Moreninha
Franklin Távora
João Franklin da Silveira Távora (1842-1888) nasceu no Ceará mas viveu em Pernambuco, onde se formou em Direito, e, a partir de 1874, viveu no Rio e Janeiro. Foi deputado estadual em Pernambuco e funcionário da Secretaria do Império no Rio. Foi além de contista e romancista um grande historiador, e como morreu pobre, o Instituo Histórico e Geográfico Brasileiro do qual fazia parte deu uma pensão a sua viúva e filho. Parte de sua obra de historiografia foi destruída no final de sua vida pelo próprio autor, que sentia-se abandonado e miserável. Franklin Távora criou a "literatura do Norte", como ele mesmo batizou no prefácio de O Cabeleira. Embora tenha atacado José de Alencar no começo da carreira, ele se arrependeu depois. Távora é um romântico pré-naturalista. mantendo poucas características do Romantismo mas não se desvencilhando totalmente deste. Entre as obras que fazem parte desta literatura do Norte destacam-se O Cabeleira e O Matuto.
"Pela sua organização, pelos seus predicados naturais, o Cabeleira não estava destinado a ser o que foi, nós o repetimos. Os maus conselhos e os péssimos exemplos que lhe foram dados pelos desnaturado pai converteram seu coração, acessível em começo, ao bem e ao amor, em um músculo bastardo que só pulsava por fim a paixões condenadas." O Cabeleira
"Morro arrependido de meus erros. Quando caí nos braços da justiça, meu braço era já incapaz de matar, porque eu já tinha entrado no caminho do bem." O Cabeleira
José de Alencar
Escritor, político e advogado, José Martiniano de Alencar nasceu a 1º de maio de 1829 no Ceará e morreu de tuberculose aos 48 anos no Rio de Janeiro, em 12 de dezembro de 1877. Fez curso de Humanidades no RJ e formou-se em Direito em SP, onde foi colega de aula de Álvares de Azevedo e Bernardo Guimarães. Foi ministro da Justiça (1868-1870) e Senador do Império. Um de seus descendentes foi o Presidente Humberto de Alencar Castelo Branco. É considerado o maior escritor romântico brasileiro, tendo criado obras regionalistas, sociais e indianistas. Neste último estilo, que criou junto com Gonçalves Dias, enquadra-se O Guarani, que inspirou a célebre ópera de Carlos Gomes. Alencar foi também poeta e teatrólogo. Entre seus maiores romances estão O Guarani, Ubirajara, Iracema, Senhora, A Pata da Gazela, Diva, Lucíola, As Minas de Prata, A Viuvinha, Cinco Minutos, Til, O Gaúcho, O Sertanejo, Encarnação, Sonhos d'Ouro e O Tronco do Ipê.
"Aurélia amava mais seu amor, do que seu amante; era mais poeta do que mulher; preferia o ideal ao homem." Senhora
"As cortinas cerraram-se, e as auras da noite, acariciando o seio das flores, cantavam o hino misterioso do santo amor conjugal." Senhora
"Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longo que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como sue sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado." Iracema
"Pousando a criança nos braços paternos, a desventurada mãe desfaleceu, como a jetica, se lhe arrancam o bulbo. O esposo viu então como a dor tinha consumido seu belo corpo; mas formosura ainda morava nela, como o perfume na flor caída do manacá." Iracema
"Poucos homens conheciam como Horácio o coração da mulher; porque bem raros o teriam estudados com tamanha assiduidade. O mais sábio professor ficaria estupefato da lucidez admirável, com que o leão costumava ler nesse caos da paixão, que a anatomia chamou coração de mulher." A Pata da Gazela
" É verdade! Murmurou soltando uma fumaça de charuto. O leão deixou que o cerceassem as garras; foi esmagado pela pata da gazela." A Pata da Gazela
"Podia dar-lhe outra resposta mais breve, e dizer-lhe simplesmente que tudo isto sucedeu porque me atrasei cinco minutos." Cinco Minutos
"Calando-me naquela ocasião, prometi dar-lhe a razão que a senhora exigia; e cumpro o meu propósito mais cedo do que pensava. Trouxe no desejo de agradar-lhe a inspiração; e achei voltando a insônia de recordações que despertara a nossa conversa. Escrevi as páginas que lhe envio, às quais a senhora dará um título e um destino que merecem. É um 'perfil de mulher' apenas esboçado." Lucíola
"Quis pintar-lhe o que vi: a incubação de uma alma violentamente comprimida por uma terrível catástrofe; a vegetação de um corpo vivendo apenas pela força da matéria e do instinto; a revelação súbita da sensibilidade embotada pelos choques violentos que partiram o estame de uma infância feliz; a floração tardia do coração confrangido pelo escárnio e pelo desprezo; finalmente a energia e o vigor do espírito que surgia, soltando por misteriosa coesão os elos partidos da vida moral, e continuando no futuro a adolescência truncada." Lucíola
"Porque nasci para esta vida nova. Oh! Tu não sabes... Depois que reabilitei o nome de meu pai e o meu, ainda me faltava uma condição para voltar ao mundo. [...] A tua felicidade, o teu desejo. Se tivesses esquecido do teu marido para amar-me sem remorso e sem escrúpulo, eu estava resolvido... a fugir-te para sempre!" A Viuvinha
" A Emília, de quem eu te falo, não existiu para ninguém mais senão para mim, em quem ela viveu e morreu. A Emília, que o mundo conhecera e já esqueceu talvez, foi a moça formosa, que atravessou os salões, como a borboleta, atirando às turbas o pó dourado de suas asas. A flor, de que ela buscava o mel, não viçava ali, nem talvez na terra." Diva
" Não sei!... Respondeu-me com indefinível candura. O que sei é que te amo!... Tu não é só o arbítrio supremo de minha alma, és o motor de minha vida, meu pensamento e minha vontade. És tu que deve pensar e querer por mim... Eu?... Eu te pertenço; sou uma cousa tua. Podes conservá-la ou destruí-la; podes fazer dela tua mulher ou tua escrava!... É o teu direito e o meu destino. Só o que tu não podes em mim, é fazer que eu não te ame!..." Diva
Visconde de Taunay
O Visconde Alfredo d'Escragnolle Taunay foi um militar e político, tendo escrito o romance de transição para o Naturalismo Inocência e a obra em francês Retirada de Laguna. Foi também um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras; quando aconteceu a proclamação da República tomou desgosto da política e retirou-se da vida pública.
"À medida que as suspeitas sobre as intenções do inocente Meyer iam tomando vulto exagerado, nascia ilimitada confiança naquele outro homem que lhe era também desconhecido e que a princípio lhe causara tanta prevenção quanto o segundo." Inocência.
"Inocência, coitadinha...
Exatamente neste dia fazia dois anos que o seu gentil corpo fora entregue à terra, no imenso sertão de Santana do Paranaíba para aí dormir o sono da eternidade." Inocência


domingo, 4 de setembro de 2011

LITERATURA: LIVRO

                                   “TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA”
                                               Autor: Lima Barreto

Resumo

            O funcionário público Policarpo Quaresma, nacionalista e patriota extremado, é conhecido por todos como major Quaresma, no Arsenal de Guerra, onde exerce a função de subsecretário. Sem muitos amigos, vive isolado com sua irmã Dona Adelaide, mantendo os mesmos hábitos há trinta anos. Seu fanatismo patriótico se reflete nos autores nacionais de sua vasta biblioteca e no modo de ver o Brasil. Para ele, tudo do país é superior, chegando até mesmo a "amputar alguns quilômetros ao Nilo" apenas para destacar a grandiosidade do Amazonas. Por isso, em casa ou na repartição, é sempre incompreendido.
            Esse patriotismo leva-o a valorizar o violão, instrumento marginalizado na época, visto como sinônimo de malandragem. Atribuindo-lhe valores nacionais, decide aprender a tocá-lo com o professor Ricardo Coração dos Outros. Em busca de modinhas do folclore brasileiro, para a festa do general Albernaz, seu vizinho, lê tudo sobre o assunto, descobrindo, com grande decepção, que um bom número de nossas tradições e canções vinha do estrangeiro. Sem desanimar, decide estudar algo tipicamente nacional: os costumes tupinambás. Alguns dias depois, o compadre, Vicente Coleoni, e a afilhada, Dona Olga, são recebidos no melhor estilo Tupinambá: com choros, berros e descabelamentos. Abandonando o violão, o major volta-se para o maracá e a inúbia, instrumentos indígenas tipicamente nacionais.
            Ainda nessa esteira nacionalista, propõe, em documento enviado ao Congresso Nacional, a substituição do português pelo tupi-guarani, a verdadeira língua do Brasil. Por isso, torna-se objeto de ridicularizarão, escárnio e ironia. Um ofício em tupi, enviado ao Ministro da Guerra, por engano, levá-o à suspensão e como suas manias sugerem um claro desvio comportamental, é aposentado por invalidez, depois de passar alguns meses no hospício.
            Após recuperar-se da insanidade, Quaresma deixa a casa de saúde e compra o Sossego, um sítio no interior do Rio de Janeiro; está decidido a trabalhar na terra. Com Adelaide e o preto Anastácio, muda-se para o campo. A idéia de tirar da fértil terra brasileira seu sustento e felicidade anima-o. Adquire vários instrumentos e livros sobre agricultura e logo aprende a manejar a enxada. Orgulhoso da terra brasileira que, de tão boa, dispensa adubos, recebe a visita de Ricardo Coração dos Outros e da afilhada Olga, que não vê todo o progresso no campo, alardeado pelo padrinho. Nota, sim, muita pobreza e desânimo naquela gente simples.
            Depois de algum tempo, o projeto agrícola de Quaresma cai por terra, derrotado por três inimigos terríveis. Primeiro, o clientelismo hipócrita dos políticos. Como Policarpo não quis compactuar com uma fraude da política local, passa a ser multado indevidamente.O segundo, foi a deficiente estrutura agrária brasileira que lhe impede de vender uma boa safra, sem tomar prejuízo. O terceiro, foi a voracidade dos imbatíveis exércitos de saúvas, que, ferozmente, devoravam sua lavoura e reservas de milho e feijão. Desanimado, estende sua dor à pobre população rural, lamentando o abandono de terras improdutivas e a falta de solidariedade do governo, protetor dos grandes latifundiários do café. Para ele, era necessária uma nova administração.
            A Revolta da Armada - insurreição dos marinheiros da esquadra contra o continuísmo florianista - faz com que Quaresma abandone a batalha campestre e, como bom patriota, siga para o Rio de Janeiro. Alistando-se na frente de combate em defesa do Marechal Floriano, torna-se comandante de um destacamento, onde estuda artilharia, balística, mecânica.
            Durante a visita de Floriano Peixoto ao quartel, que já o conhecia do arsenal, Policarpo fica sabendo que o marechal havia lido seu "projeto agrícola" para a nação. Diante do entusiasmo e observações oníricas do comandante, o Presidente simplesmente responde: "Você Quaresma é um visionário".
            Após quatro meses de revolta, a Armada ainda resiste bravamente. Diante da indiferença de Floriano para com seu "projeto", Quaresma questiona-se se vale a pena deixar o sossego de casa e se arriscar, ou até morrer nas trincheiras por esse homem. Mas continua lutando e acaba ferido. Enquanto isso, sozinha, a irmã Adelaide pouco pode fazer pelo sítio do Sossego, que já demonstra sinais de completo abandono. Em uma carta à Adelaide, descreve-lhe as batalhas e fala de seu ferimento. Contudo, Quaresma se restabelece e, ao fim da revolta, que dura sete meses, é designado carcereiro da Ilha das Enxadas, prisão dos marinheiros insurgentes.
            Uma madrugada é visitado por um emissário do governo que, aleatoriamente, escolhe doze prisioneiros que são levados pela escolta para fuzilamento. Indignado, escreve a Floriano, denunciando esse tipo de atrocidade cometida pelo governo. Acaba sendo preso como traidor e conduzido à Ilha das Cobras. Apesar de tanto empenho e fidelidade, Quaresma é condenado à morte. Preocupado com sua situação, Ricardo busca auxílio nas repartições e com amigos do próprio Quaresma, que nada fazem, pois temem por seus empregos. Mesmo contrariando a vontade e ambição do marido, sua afilhada, Olga, tenta ajudá-lo, buscando o apoio de Floriano, mas nada consegue. A morte será o triste fim de Policarpo Quaresma.

                                                                    Prof. Jamil Junior - 2011
                                                                                                                      
                                                                                                                      

LITERATURA: LIVRO

                      “MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS”

AUTOR: MANUEL ANTONIO DE ALMEIDA

1. Enredo

                Leonardo, o futuro sargento de milícias, filho de Leonardo-Pataca e de Maria -da-Hortaliça, é o resultado das pisadelas, beliscões e outros atos similares praticados pelo casal de imigrantes portugueses durante a travessia do Atlântico rumo ao Rio de Janeiro.
Maria-da-Hortaliça sente enjôos logo ao desembarcar e sete meses depois nasce um robusto menino, batizado com o nome do pai. A parteira - a comadre - e o barbeiro - 'de defronte' foram os padrinhos do herói, que passa junto aos pais os primeiros anos da infância. Leonardo-Pataca, que se tornara meirinho, confirma certo dia as suspeitas de que sua mulher não mantinha a mesma fidelidade que durante a viagem.Em conseqüência, briga com ela, expulsa de casa o garoto com um enérgico pontapé e sai em busca de consolo. Ao retornar à tarde, em companhia do compadre e padrinho do menino, é informado de que Maria-da-Hortaliça, saudosa da pátria, tinha fugido e embarcado novamente, rumo a Portugal, a convite do capitão de um navio que partira pouco antes. Logo a seguir, Leonardo-Pataca vai viver com uma cigana, que, por sua vez, também o abandona.
                Enquanto isso, Leonardo, o filho, adotado pelo padrinho, que muito se afeiçoara a ele, vai crescendo e a cada dia se revela mais briguento e travesso, prenunciando futuros envolvimentos com o famoso major Vidigal, que era o terror de todos os malandros e baderneiros da época.
                O padrinho, com infinita paciência, tenta encaminhar o menino na prática da religião para qual este não revela grandes pendores. Coloca-o na escola e o ensina a ajudar a missa. Se na escola se revela um péssimo aluno e colega, na Igreja da Sé, onde consegue ser sacristão, vê a melhor oportunidade para grandes travessuras, como o experimenta o mestre-de-cerimônias. Este, um padre de meia idade, virtuoso por fora, mas bastante diferente por dentro, envolve-se com uma cigana, a mesma, aliás, com quem Leonardo-Pataca vivera depois da fuga de Maria-da-Hortaliça. O sacristão se vinga das reprimendas que sofre por suas constantes travessuras levando os fiéis a tomarem conhecimento dos fatos, o que faz com que seja expulso e deixe a igreja da Sé.
                Para desgosto do padrinho e da madrinha, que queriam encaminhá-lo em uma profissão, Leonardo não demonstra qualquer interesse. Prefere a vida livre da vadiagem e das brincadeiras. Certo dia, em casa de Dona Maria, uma mulher das vizinhanças, conhece a sobrinha desta, Luisinha, sua futura mulher. Até que o casamento se realizasse, porém, muita coisa, iria acontecer. Leonardo-Pataca, depois de vencer o mestre-de-cerimônias na disputa pela cigana, é abandonado novamente por esta e passa a viver com a filha da parteira, Chiquinha. Daí nascem uma filha e grandes confusões, pois Chiquinha e Leonardo se detestavam e a parteira é chamada continuamente para serenar os ânimos. Por esta época aparece em cena José Manuel, um rival do futuro sargento de milícias em seu amor por Luisinha. Apesar dos esforços da comadre para afastá-lo do caminho, ela não tem sucesso. Além disso, a morte do padrinho e as contínuas brigas com Chiquinha fazem com que Leonardo saia de casa e passe a vagabundear pelos subúrbios da cidade, quando conhece Vidinha, uma mulata sensual, de olhos pretos e lábios úmidos, pela qual se apaixona imediatamente. Como Vidinha tinha outros pretendentes, cria-se grande confusão, o onipresente major Vidigal intervém e Leonardo consegue fugir, deixando-o furioso. Mas a vida continua e, com proteção da comadre, o Leonardo entra para as hostes do major Vidigal, não revelando, naturalmente, grande amor por esta nova profissão e passando boa parte de seu tempo na prisão por indisciplina. Sempre com a proteção da comadre, que recorre à ajuda de Maria Regalada, um antigo amor de Vigida, Leonardo supera todas as adversidade, chegando ao posto de sargento de milícias.Assim, o final feliz se aproximava. José Manuel, o rival de Leonardo no amor por Luisinha, revela-se péssimo marido e, além do mais, morre providencialmente, deixando-a viúva e livre para casar com o sargento de milícias. Passando o tempo indispensável do luto, Leonardo, em uniforme da tropa, recebe Luisinha como mulher, na mesma igreja da Sé que fora palco de suas grandes travessuras como sacristão.

2- PERSONAGENS PRINCIPAIS

Leonardo
De menino traquinas, sempre pronto para fazer travessuras e vingar-se de quem não o suportava, passa a sargento de milícias, posto de grande responsabilidade, o que caracteriza a trajetória desordenada e contraditória de um personagem que não controla o meio em que se envolve e vai, pelo contrário, deixando-se levar por ele. Leonardo é, indiscutivelmente, a figura central do enredo, apesar de muitas vezes ser ofuscado pela ação de outros personagens.

Leonardo-Pataca
Tendo conseguido chegar a meirinho, o que lhe garante uma vida de ócio, Leonardo-Pataca é apresentado como o infeliz que é perseguido sempre pela má sorte na vida pessoal, má sorte que, na verdade, é resultado da pouca inteligência e do excesso de sentimentalismo amoroso. Mas a velhice o acalma e, afinal, encontra a paz ao lado de Chiquinha. A comadre
Como parteira, a comadre faz uso da influência e das informações que obtém no exercício de sua profissão para organizar o mundo segundo interesses. Nem sempre é bem-sucedida, mas a sorte a favorece e consegue ver o afilhado bem casado e na posição de sargento de milícias.O compadre
De bom coração, apesar do famoso arranjei-me, o compadre, o compadre afeiçoa-se a Leonardo, no qual parece identificar-se, pois também fora um menino abandonado que tivera que enfrentar a vida sozinho. Não vive o suficiente para ver o final feliz do afilhado.

Vidigal
O terror dos malandros e vagabundos, 'o rei absoluto, o árbitro supremo' e o distribuidor dos castigos em uma sociedade em que a polícia ainda não estava organizada, o major é visto de forma simpática, principalmente porque termina sendo uma peça fundamental para que o destino de Leonardo, o herói central, se encerre de forma favorável. Vidinha
A 'mulatinha de 18 a 20 anos...de lábios grossos e úmidos' é o primeiro personagem da ficção brasileira que aparece o estereótipo da mulata sensual que enlouquece os homens com sua vida e sem compromissos.

3- Estrutura narrativa

                Memórias de um sargento de milícias, a história do filho 'da pisadela e de um beliscão', é narrado em 48 capítulos por um narrador onisciente que orienta a leitura ao longo de toda a obra apontando e comentado as intrigas, os sucessos e os fracassos dos personagens. Se a estrutura narrativa é frágil e pouco organizada, dados os constantes saltos no tempo e no espaço, os comentários do narrador, ora humorísticos, ora irônicos, lhe dão inegável unidade, em que pesem alguns lapsos, como é o caso do personagem Chiquinha, apresentada às vezes como sobrinha e às vezes como filha da comadre.Toda a ação do romance se desenvolve no Rio de Janeiro, 'no tempo do rei', isto é, entre 1808 e 1821.



4- Comentário crítico

                Esquecido durante muito tempo, reavaliado positivamente a partir de 1920, Memórias de um sargento de milícias sempre constituiu um problema para a visão tradicional da crítica literária brasileira, que, quase sempre mais preocupada, em rotular e catalogar as obras a partir das concepções idealistas próprias da periodização por estilos [romantismo, realismo, etc.] sentia-se pouco à vontade diante da irreverência e da desordem próprias de Manuel Antônio de Almeida. Irreverência e desordem que fizeram e fazem de Memórias de um sargento de milícias um dos romances mais lindos de toda a ficção brasileira do séc..
                Como tantos outros romances de sua época, a obra de Manuel Antônio de Almeida foi publicada originalmente em folhetins de jornal. Cada um de seus capítulos, à semelhança das modernas telenovelas, devia provocar no leitor a curiosidade sobre o desenrolar subseqüente da história.
                Mas as semelhanças entre AM e os romancistas brasileiros seus contemporâneos terminam aí. Ao contrário destes, que construíram mundo ideais, impregnados dos valores da classe dominante brasileira da época, AM centra sua atenção sobre um grupo social específico que poderia ser identificado, forçando um pouco a expressão, como a classe média do Rio de Janeiro de então.
                Eram os homens livres, que, não sendo escravos mas também não dispondo de poder econômico e político, viviam, ou sobreviviam, de acordo com suas possibilidades, numa espécie de zona de penumbra na qual os limites entre os valores da ordem vigente e da marginalização completa se tornavam bastante tênues.
                Por retratar com certa objetividade os costumes e hábitos deste grupo social, o romance de MAA foi qualificado, ainda no século passado de realismo. Mais tarde, por volta de 1920, ao ser reavaliado, o Memórias de um sargento de milícias foi considerado um romance picaresco a partir do argumento de que possuía as características das obras de ficção européia dos séculos XVI e XVII assim denominadas: ausência de critérios morais rígidos, um herói central de origem social pobre, uma visão de mundo ingênua e ao mesmo tempo satírica, etc.
                Mas a definição não vingou, principalmente porque há uma diferença fundamental entre Leonardo e os heróis do chamado romance picaresco europeu: sua vida se limita ao espaço dos homens livres do século XIX, sem transitar através de vários grupos sociais. Além disto, ciente da ineficiência dos rótulos e catalogações da crítica tradicional, a concepção que predomina hoje na análise da obra de MAA é a que, a partir de uma perspectiva histórica, vê em Leonardo o primeiro grande 'malandro'
da ficção brasileira.
                De fato, 'no tempo do rei' a ordem social definia-se a partir de dois pólos extremamente rígidos: o escravo e o senhor-de-escravos. No meio, os homens livres sem poder econômico e político representavam um grupo restrito mas, certamente, de alguma importância em termos sociais. Sua ação era definida fundamentalmente a partir da necessidade de sobreviver através de expediente raramente ligados a uma atividade econômica específica. Caracterizavam-se antes por exercerem ocupações ocasionais, pequenos serviços e alguns cargos burocráticos subalternos: vendeiro, barbeiro, parteira, miliciano, sacristão.
                Leonardo, típico representante deste setor, tem como alternativa desempenhar um destes papéis. Não chega, a rigor, a optar por um ou por outro. Vê-se, antes, obrigado pelas circunstâncias, a aceitar ora esta, ora aquela ocupação. Já de início, o compadre e a comadre, seus tutores, desejam para ele uma carreira de mais destaque: advogado, padre ou algo semelhante. Leonardo desaponta-os. Pensa em casar com Luisinha, moça de certas posses. Ela, porém, escolhe alguém de nível social superior. Por fim, o 'malandro' Leonardo vê-se obrigado a entrar para o serviço militar. Não se adapta à nova carreira mas, depois de muita confusão, Vidigal, o terrível major, símbolo da ordem constituída, incumbe-se de salvar-lhe a pele e coloca-o no confortável posto de sargento de milícias. Isto não seria estranhável não fosse o fato de que a artífice de tudo é Maria Regalada, a mulher que já fora de 'vida fácil', ou seja, uma típica representante da desordem social, uma marginal.
                Assim é que, entre a ordem constituída [representada por Vidigal] e a desordem tolerada [Maria Regalada], quem sai beneficiado é Leonardo. E de tudo isto, de acordo com a visão de mundo ingênua e sem conflitos que impregna o romance, não resta qualquer sentimento de culpa, tanto que ao final, em paz, o herói casa, é reformado e desfruta de cinco heranças!
                O salto, em termos de enredo, pode ser um tanto brusco, mas o fato é que Leonardo escolhe a ordem e suas vantagens. Afinal, não por nada resolve esquecer Vidinha e seus encantos, aos quais faltava o charme da fortuna e do reconhecimento social.
                Neste sentido moderno, Memórias de um sargento de milícias poderia ser qualificado de realista, pois MAA deixou registrado, tanto no personagem central, como nos outros, a regra constitutiva dos valores do grupo social dos homens livres do Brasil do séc. XIX: para eles ordem e desordem pouco representavam. Sem trabalhar, o que era obrigação dos escravos, e sem estar no poder, como os senhores-de-escravos, Leonardo passeia pelo mundo não levando muito em conta as convenções sociais, a não ser quando funcionam em seu próprio benefício.
                Em conseqüência, sob hipótese alguma é possível aproximar Memórias de um sargento de milícias dos romances e novelas que saíram da pena de Bernardo Guimarães, Alencar e Macedo, cujos mundos ideais e quase sempre rigidamente organizados em termos éticos, encarnam e reforçam a ordem vigente. A obra de MAA encontra similar apenas nas peças de Martins Pena, que, com uma visão crítica bem mais contundentes que a do criador de Leonardo, também produziu verdadeiros instantâneos do Brasil urbano de meados do séc. XIX.

5- Estilo de época

                Apesar de estar classificado como romântico, o romance Memórias de um sargento de milícias apresenta traços estéticos que ultrapassam o Romantismo. Sua composição não segue a trilha deixada pelos demais ficcionistas desse estilo. A fragmentação do enredo deixa margens de dúvida se não seria um precursor do estilo digressivo e fragmentário de Machado de Assis. Suas personagens passam longe das idealizações românticas, então mais próximas do Realismo, não raro configurando tipos. A ausência de um final feliz definitivo é outro elemento fora dos parâmetros românticos. Dentro dos romances românticos, não se direciona especificamente para os romances urbanos, que focalizam a sociedade burguesa, pois caracteriza a sociedade suburbana, a gente humilde e trabalhadora.
                Sem dúvida, a situação é controversa. Devemos enxergar a presente obra como um romance de costumes, que apresenta também tendência à novela picaresca, pela presença do anti-herói Leonardinho.
                Cabe ressaltar que alguns críticos enxergam na obra uma percursora do Realismo no Brasil. Há, sem dúvida, elementos realistas, mas ainda predominam componentes românticos, já que não mostra nítida intenção realista. O elementos considerados realistas presentes nessa obra filiam-se à narrativa picaresca espanhola, que tem por preocupação retratar naturalmente os costumes populares sem idealizá-los.


6- Estilo individual

Como vimos, a presente obra foge das características gerais do Romantismo, apresentando características próprias. O estilo da obra, bem como de seu autor, apresenta tendências bem pessoais e marcantes. Destaquemos algumas dessas tendências:
a. Emprego de linguagem bem coloquial, marcada por incorreções e linguajar lusitano, interiorano ou das periferias de Lisboa, lembrando que boa parte das personagens são imigrantes portugueses ou gente simples do povo.

b. Ausência de personagens idealizadas e de análise psicológica: o romance prefere focalizar os costumes, hábitos e cacoetes das pessoas de camadas sociais inferiores, numa construção mais realista da sociedade suburbana do início do século XIX.

c. Presença do humorismo, do ridículo e do burlesco: o tom geral da obra segue a tendência da gozação, marcado que está pela construção de personagens que tendem para o caricatural, para o mais absoluto ridículo. A essa tendência chamamos carnavalização.

d. Presença da ironia.

e. Presença da linguagem: A obra volta-se para si mesma, comentando os procedimentos que estão sendo empregados: palavras utilizadas, explicações sobre capítulos ou personagens que desaparecem de cena.

f. Presença de digressões: a narrativa não segue a ordem linear dos fatos, é episódica e, não raro, foge da história para comentar fatos paralelos ou para dar explicações sobre o próprio livro.

g. Presença do narrador intruso, que o tempo todo se intromete para dar explicações, analisar fatos ou personagens e conversar com o leitor.

h. Presença do leitor incluso, com quem o narrador procura estabelecer conversação: 'Pôr estas palavras vê-se que ele suspeitaria alguma coisa; e saiba o leitor que suspeitara a verdade'.

A obra deixa transparecer a presença de diversas figuras de linguagem, bem como, hipérboles, comparações, metáforas, perífrases, trocadilhos, metonímias, linguagens forenses, sarcasmos, barbarismos, etc...

7- Problemática e principais temas

Mesmo com o risco de nos tornarmos repetitivos, retomamos a problemática central da presente obra. Afinal, temos ou não uma obra que foge uma rígida classificação? Sem dúvida a resposta a esta questão é evidente uma vez que a obra apresenta elementos que escapam à típica caracterização dos moldes em voga no Romantismo, mas não atende de forma direta às perspectivas do Realismo, que sequer havia começado na Europa. É um romance que apresenta variáveis, tais como: novela picaresca, romance de costumes e romance de aventuras, sendo considerado por alguns um romance anti-romântico, o que implicaria em tendências precursoras do Realismo, que só se confirmaria a partir das Memórias Póstumas de Brás Cubas [1881], de Machado de Assis. A presença da realidade objetiva é inquestionável, mas apenas isto não configura o Realismo na linha flaubertiana. A obra é fundamentalmente humorística, estabelecendo contatos com gênero picaresco espanhol através do protagonista, que traz em si toda esperteza e picardia de um anti-herói, Leonardinho foi o antecessor em linhagem direta de Macunaíma, de Mário de Andrade e o continuador, no Brasil, de Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes.
Retrato vivo dos costumes bem brasileiros do início do séc. XIX, romance focaliza um sem número de tipos populares do RJ suburbano. Esse painel pitoresco retrata a alegria de viver, a malícia da época, as fofocas, as beatices, as crendices, as festas, as profissões, os costumes e hábitos de nosso povo. Leonardinho é o típico malandro carioca, cheio de picardia, esperteza, sarcasmo e desejo de vingança.
Podemos destacar entre as temáticas fundamentais as críticas ao aurtoritarismo policial, à religião, ao clero imoral, ao interesse econômico, ao casamento como meio de ascensão social e à vadiagem como meio de vida. Há, ainda, uma espécie de paródia do próprio Romantismo, montado nessa obra às avessas, abandonando os adocicados finais felizes para deixar nas entrelinhas uma sucessão de fatos tristes que poderiam vir a acontecer.
                                                                                               
                                                                                              PROF. JAMIL JUNIOR 2011


domingo, 28 de agosto de 2011

LITERATURA: MODERNISMO NO BRASIL - RESUMO

Resumo:

                    O MODERNISMO NO BRASIL

            O movimento denominado Modernismo iniciou-se em 11 de fevereiro de 1922, com o evento chamado “Semana da Arte Moderna”. Mas muitos consideram o inicio do movimento a partir do ano de 1920, pois as características modernistas já haviam sido incorporadas aos escritores pré-modernistas.
            A Semana de Arte Moderna foi um evento ocorrido no Teatro Municipal de São Paulo, o qual contou com inúmeros eventos, como apresentação de conferências, leitura de poemas, dança e música e vários grandes nomes da literatura brasileiras, tais como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Manuel Bandeira, Di Cavalcanti, Graça Aranha, Guilherme de Almeida e muitos outros.
            A arte exposta nesse evento causou uma enorme polêmica à sociedade da época, e atravessou o século XX, nos impressionando até os dias de hoje.
O movimento dividi-se em três fases:

PRIMEIRA FASE (1922-1930)
            Caracteriza-se por ser uma tentativa de definir e marcar posições. Período rico em manifestos e revistas de vida efêmera.
            Um mês depois da Semana de Arte Moderna, a política vive dois momentos importantes: eleições para Presidência da República e congresso (RJ) para fundação do Partido Comunista do Brasil. Ainda no campo da política, surge em 1926 o Partido Democrático que teve entre seus fundadores Mário de Andrade.
            É a fase mais radical justamente em conseqüência da necessidade de definições e do rompimento de todas as estruturas do passado. Caráter anárquico e forte sentido destruidor.
            Principais autores desta fase: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Antônio de Alcântara Machado, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Guilherme de Almeida e Plínio Salgado.

CARACTERÍSTICAS
• busca do moderno, original e polêmico
• nacionalismo em suas múltiplas facetas
• volta às origens e valorização do índio verdadeiramente brasileiro
• “língua brasileira” – falada pelo povo nas ruas
• paródias – tentativa de repensar a história e a literatura brasileiras

A postura nacionalista apresenta-se em duas vertentes:
• nacionalismo crítico, consciente, de denúncia da realidade, identificado politicamente com as esquerdas.
• nacionalismo ufanista, utópico, exagerado, identificado com as correntes de extrema direita.

SEGUNDA FASE (1930-1945)
            Estende-se de 1930 a 1945, sendo um período rico na produção poética e também na prosa. O universo temático se amplia e os artistas passam a preocupar-se mais com o destino dos homens, o “estar no mundo”.
            Durante algum certo tempo, a poesia das gerações de 22 e 30 conviveram. Não se trata, portanto, de uma sucessão brusca. A maioria dos poetas de 30 absorveria parte da experiência de 22: liberdade temática, gosto da expressão atualizada ou inventiva, verso livre, anti-academicismo.
            A poesia prossegue a tarefa de purificação de meios e formas iniciada antes, ampliando a temática na direção da inquietação filosófica e religiosa, com Vinícius de Moraes, Jorge de Lima, Augusto Frederico Schmidt, Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, ao tempo em que a prosa alargava a sua área de interesse para incluir preocupações novas de ordem política, social e econômica, humana e espiritual. À piada sucedeu a gravidade de espírito, a seriedade da alma, propósitos e meios. Uma geração grave, preocupada com o destino do homem e com as dores do mundo, pelos quais se considerava responsável, deu à época uma atividade excepcional.
            O humor quase piadístico de Drummond receberia influencias de Mário e Oswald de Andrade. Vinícius, Cecília, Jorge de Lima e Murilo Mendes apresentam certo espiritualismo que vinha do livro de Mário Há uma gota de Sangue em cada Poema (1917).
            A geração de 30 não precisou ser combativa como a de 22. Eles já encontraram uma linguagem poética modernista estruturada. Passaram então a aprimorá-la e extrair dela novas variações, numa maior estabilidade.
            O Modernismo já estava dinamicamente incorporado às praticas literárias brasileiras, sendo assim os modernistas de 30 estão mais voltados ao drama do mundo e ao desconcerto do capitalismo.

CARACTERÍSTICAS
• Repensar a historia nacional com humor e ironia – ” Em outubro de 1930 / Nós fizemos — que animação! — / Um pic-nic com carabinas.” (Festa Familiar – Carlos D. de Andrade)
• Verso livre e poesia sintética – ” Stop. / A vida parou / ou foi o automóvel?” (Cota Zero, Carlos Drummond de Andrade)
• Nova postura temática – questionar mais a realidade e a si mesmo enquanto indivíduo
• Tentativa de interpretar o estar-no-mundo e seu papel de poeta
• Literatura mais construtiva e mais politizada.
• Surge uma corrente mais voltada para o espiritualismo e o intimismo (Cecília, Murilo Mendes, Jorge de Lima e Vinícius)
• Aprofundamento das relações do eu com o mundo
• Consciência da fragilidade do eu – “Tenho apenas duas mãos / e o sentimento do mundo” (Carlos Drummond de Andrade – Sentimento do Mundo)
• Perspectiva única para enfrentar os tempos difíceis é a união, as soluções coletivas – ” O presente é tão grande, ano nos afastemos, / Ano nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.” (Carlos Drummond de Andrade – Mãos dadas)
Os principais autores são: Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Jorge de Lima, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Érico Veríssimo.

TERCEIRA FASE (1945-1978)
            A literatura brasileira, assim como o cenário sócio-político, passa por transformações.
            A prosa tanto no romance quanto nos contos busca uma literatura intimista, de sondagem psicológica, introspectiva, com destaque para Clarice Lispector. Ao mesmo tempo, o regionalismo adquire uma nova dimensão com Guimarães Rosa e sua recriação dos costumes e da fala sertaneja, penetrando fundo na psicologia do jagunço do Brasil central. Um traço característico comum a Clarice e Guimarães Rosa é a pesquisa da linguagem, por isso são chamados instrumentalistas. Enquanto Guimarães Rosa preocupa-se com a manutenção do enredo com o suspense, Clarice abandona quase que completamente a noção de trama e detém-se no registro de incidentes do cotidiano ou no mergulho para dentro dos personagens.
            Na poesia, surge uma geração de poetas que se opõem às conquistas e inovações dos modernistas de 22. A nova proposta foi defendida, inicialmente, pela revista Orfeu (1947). Assim, negando a liberdade formal, as ironias, as sátiras e outras “brincadeiras” modernistas, os poetas de 45 buscam uma poesia mais “equilibrada e séria”. Os modelos voltam a ser os Parnasianos e Simbolistas.   Principais autores (Ledo Ivo, Péricles Eugênio da Silva Ramos, Geraldo Vidigal, Domingos Carvalho da Silva, Geir de Campos e Darcy Damasceno). No fim dos anos 40, surge um poeta singular, pois não está filiado esteticamente a nenhuma tendência: João Cabral de Melo Neto.
Vários fatos mundiais aconteceram nessa fase, tais como o fim da 2ª Guerra Mundial, o inicio a Era Atômica (com as bombas de Hiroshima e Nagasaki), a criação da ONU e a criação da Declaração dos Direitos Humanos, o início da Guerra Fria.
            No Brasil houve o fim da ditadura Vargas e a redemocratização brasileira.


                                                        PROF. JAMIL JR. - 2011