quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O PRÉ-MODERNISMO

PRÉ-MODERNISMO E ALGUMAS DE SUAS OBRAS
O Pré-Modernismo não pode ser considerado um escola literária, mas sim um período literário de transição do Realismo/Naturalismo para o Modernismo. De caráter inovador, a maioria de seus membros não se enquadra como Modernistas por não terem sobrevivido o suficiente para participar ou terem criticado o movimento. Outro pré-modernista, que se encontra em página separada foi Lima Barreto.
Euclides da Cunha
Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu a 20 de janeiro de 1866 e morreu envolvido num grande escândalo familiar, assassinado em duelo pelo amante da esposa, a 15 de agosto de 1909. Se formou engenheiro militar em 1892, exerceu a função de engenheiro civil. Foi membro da ABL, do Instituto Histórico e catedrático em Lógica pelo Colégio Dom Pedro II. Viajou muito e escreveu Os Sertões pela experiência própria de ter testemunhado a Guerra de Canudos como correspondente jornalístico do Estado de São Paulo.
Positivista, por alguns autores é considerado um naturalista, mas seu estilo pessoal e inconformismo caracterizam-no como um pré-modernista. As passagens a seguir provém de Os Sertões, sendo cada uma de uma parte da obra.
"Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em lanças; e desdobra-se lhe na frente léguas e léguas, imutável no aspecto desolado: árvores sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante..." Os Sertões - A Terra
"Porque não no-los separa um mar, separam-no-los três séculos..." Os Sertões - O Homem
"E volvendo de improviso às trincheiras, volvendo em corridas para os pontos abrigados, agachados em todos os anteparos [...] os triunfadores, aqueles triunfadores memorados pela História, compreenderam que naquele andar acabaria por devorá-los, um a um, o último reduto combatido. Não lhes bastavam seis mil Mannlichers e seis mil sabres; e o golpear de doze mil braços [...] ; e os degolamentos, e a fome, e a sede; e dez meses de combates, e cem dias de canhoneio contínuo; e o esmagamento das ruínas; e o quadro indefinível dos templos derrocados; e por fim, na ciscalhagem das imagens rotas, dos altares abatidos, dos santos em pedaços - sob a impassibilidade dos céus tranqüilos e claros - a queda de um ideal ardente, a extinção absoluta de uma crença consoladora e forte..." Os Sertões - A Luta
Monteiro Lobato
José Bento Monteiro Lobato nasceu em 18/04/1882 como José Renato Monteiro Lobato e mudou seu nome mais tarde para poder usar a bengala com as iniciais JBML do pai. Bacharel em Direito contra a vontade, dizia sempre o que pensava e defendia a verdade. Escreveu livros para crianças e iniciou o movimento editorial brasileiro. Meteu-se em encrenca ao afirmar que o Brasil tinha petróleo (e estava certo). Editou livros para adultos e, desgostoso, voltou a literatura infantil. Morreu a 04/07/48. Em Urupês aparece pela primeira vez a figura de Jeca Tatu. Seu outro livro de contos muito famoso, que se junta a sua bibliografia de 30 obras é Cidades Mortas. Uma característica única de Monteiro Lobato é sua linguagem, simplificada, mais até do que a atual gramática oficial.
"Como se fosse de natural engraçado, vivera até ali da veia cômica, e com ela amanhara casa, mesa, vestuário e o mais. Sua moeda corrente era micagens, pilhérias, anedotas de inglês e tudo quanto bole com os músculos faciais do animal que ri, vulgo homem, repuxando risos ou matrecolejando gargalhadas." Urupês
"Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade!" Urupês
"A quem em nossa terra percorre tais e tais zonas, vivas outrora, hoje mortas, ou em via disso, tolhidas de incansável caquexia, uma verdade, que é um desconsolo, ressurte e tantas ruínas: nosso progresso é nômade e sujeito a paralisias súbitas. Radica-se mal. Conjugado a um grupo de fatores sempre os mesmos, reflui com eles duma região para outra. Não emite peão. Progresso de cigano, vive acampado. Emigra, deixando para trás de si um rastilho de taperas." Cidades Mortas
Os seguintes são resumos de obras literárias que se enquadram no período do Pré-Modernismo. O Pré-Modernismo foi um período literário caracterizado por inovações como o uso de linguagem mais próxima da falada e a focalização nos problemas reais do Brasil da época, mas com características conservadoras que provinham do Realismo e do Naturalismo. Além destes resumos também são dignos de nota os dos contos de Lima Barreto.
Triste Fim de Policarpo Quaresma
Autor: Lima Barreto
O livro conta a história do Major (ele não era, apenas o chamavam, mas vem a se tornar mais tarde) Policarpo Quaresma, um nacionalista exaltado e ufanista que romantiza todo o Brasil. Na primeira parte da história tenta fazer um a revolução social de costumes, é considerado louco e internado. Na segunda torna-se fazendeiro e planeja reformas nacionais tendo como base a agricultura. Na terceira se envolve nas Segunda Revolta da Armada, no lado governista e planeja mudanças políticas. Ao defender alguns prisioneiros, passado a revolta, é preso e supostamente fuzilado no final. Toda a história apresenta os funcionários corruptos, ineficientes e bajuladores, a preguiça, a incompetência, a falsidade e a traição no cenário político-social brasileiro. Várias histórias passam-se no pano de fundo, notavelmente as de Ismênia e Olga, duas jovens muito distintas que encaram de modo diferente o casamento.
Recordações do Escrivão Isaías Caminha
Autor: Lima Barreto
Este foi o primeiro livro publicado do autor e tem nítidos tons autobiográficos. O jovem mulato Isaías, filho de uma negra e um padre, vai ao Rio de Janeiro estudar e trabalhar. Após penar com o preconceito várias vezes consegue um emprego de contínuo (algo como um office-boy) no jornal oposicionista "O Globo". Dirigido por Loberant (um anagrama para Beltrano), O Globo é povoado pelos críticos literários estúpidos, jornalistas desonestos e gramáticos puristas exagerados do tempo. Em meio às falcatruas do Quarto Poder Isaías testemunha os absurdos de sua época. Quando Floc (o crítico literário) se mata, Isaías torna-se repórter após testemunhar uma orgia de Loberant ao avisá-lo do acontecimento. Isaías vai assim integrando-se ao sistema e vê os rostos mudarem: o estrangeiro combativo que lhe introduziu ao Globo sai após o jornal passar para o governo (conseguiu Loberant o favor que queria) e o gramático enlouquece com os constantes erros do falar de todos que o cercam.
Os Sertões
Autor: Euclides da Cunha
Este livro é dividido em três partes: A Terra, O Homem e A Luta. A Terra é uma descrição detalhada feita pelo cientista Euclides da Cunha, mostrando todas as características do lugar, o clima, as secas, a terra, enfim. O Homem é uma descrição feita pelo sociólogo e antropólogo Euclides da Cunha, que mostra o habitante do lugar, sua relação com o meio, sua gênese etnológica, seu comportamento, crença e costume; mas depois se fixa na figura de Antônio Conselheiro, o líder de Canudos. Apresenta se caráter, seu passado e relatos de como era a vida e os costumes de Canudos, como relatados por visitantes e habitantes capturados. Estas duas partes são essencialmente descritivas, pois na verdade "armam o palco" e "introduzem os personagens" para a verdadeira história, a Guerra de Canudos, relatada na terceira parte, A Luta. A Luta é uma descrição feita pelo jornalista e ser humano Euclides da Cunha, relatando as quatro expedições a Canudos, criando o retrato real só possível pela testemunha ocular da fome, da peste, da miséria, da violência e da insanidade da guerra. Retratando minuciosamente movimento de tropas, o autor constantemente se prende à individualidade das ações e mostra casos isolados marcantes que demonstram bem o absurdo de um massacre que começou por um motivo tolo - Antônio Conselheiro reclamando um estoque de madeira não entregue - escalou para um conflito onde havia paranóia nacional pois suspeitava-se que os "monarquistas" de Canudos, liderados pelo "famigerado e bárbaro Bom Jesus Conselheiro" tinham apoio externo. No final, foi apenas um massacre violento onde estavam todos errados e o lado mais fraco resistiu até o fim com seus derradeiros defensores - um velho, dois adultos e uma criança.

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